Vida Extraterrestre: O que esperamos encontrar?

A procura pela vida e lugares habitáveis nos confins do universo.
Renan Cesar Pereira
Nathan Eugeni Andolfato
Melissa Freitas
renan.cs.pereira@gmail.com

DOI: 10.4322/temasbio.n3.002

Recentemente vimos diversas notícias na mídia que parecem saídas de Hollywood. A NASA (Agência Espacial dos Estados Unidos) anunciando sérias intenções de colonizar Marte, após a descoberta de evidências de que pode existir água no planeta vermelho. Suspeitas de água inclusive em outros lugares do Sistema Solar, nas luas de Saturno e Júpiter, e até o aclamado cientista Stephen Hawking lançando o maior projeto de busca por vida extraterrestre já feito. É natural ter aquela sensação esperançosa ou até mesmo medo de poder ver um homenzinho verde entre nós, após ler essas notícias ou assistir aqueles filmes de ficção cientifica. Certamente você já ficou se perguntando: como os cientistas ainda não encontraram nada? Ou talvez, o quão perto estaríamos de encontrar vida fora da Terra? A questão é: o que realmente estamos procurando? Mas, o que temos até agora? Se o que você esperava ler nesse artigo era sobre descobertas de discos voadores ou do ET de Varginha, infelizmente você ficará decepcionado. 

Há um ramo na ciência que busca respostas para estas e outras questões. O ramo em questão é a astrobiologia, também conhecida como exobiologia que, além de escanear o universo em busca de vida, procura tentar compreender como esta surgiu e como determinados eventos a influenciam. É uma área recente, sendo citada pela primeira vez nos anos 60, mas que vem sendo tratada com crescente seriedade à medida que trabalhos são publicados. 

O pesquisador brasileiro Douglas Galante, integrante do Instituto Astronômico e Geofísico, da Universidade de São Paulo (IAG-USP), em seu doutorado, contribuiu para o pensamento de que seres vivos poderiam sobreviver aos maiores eventos catastróficos do universo, como a explosão de uma supernova (quando as maiores estrelas chegam ao seu fim, apresentam esse fenômeno caracterizado pela rápida queima de todos os gases que a compõe, gerando um dos eventos mais bonitos e devastadores conhecido), e ainda viajar pelo espaço. Junto a outro pesquisador, Ivan Paulino Lima, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conduziram testes na bactéria Deinococcus radiodurans. Esta bactéria foi descoberta nos Estados Unidos, nos anos 1950. Já era sabido os efeitos que a radiação exercia sobre os seres vivos, e raios gama eram utilizados para a esterilização de carne enlatada. Esta técnica se mostrou eficiente, uma vez que livrava a carne da maioria das bactérias, e assim esta durava mais. Contudo, um organismo em especial, o D. radiodurans parecia ser imune aos raios gama, pois não importava a quantidade de radiação, ele sempre continuava presente nos alimentos.

Os testes apontaram que, enquanto nós humanos não suportamos uma quantidade de 4 Grays (unidade de medida para a radiação Gama), a D. radiodurans suporta até 15 mil Grays, além de suportar o vácuo, mudanças bruscas de temperatura e a dessecação. De fato, estas características tornam esta bactéria perfeita para testes em ambientes que simulam o espaço, e abrem caminho para um novo pensamento: talvez as chances de haver vida microscópica lá fora sejam maiores do que o que estamos acostumados a pensar. 

Em 2010, descobriu-se uma bactéria em um lago que era considerado estéril pela grande quantidade de arsênio (composto químico altamente tóxico). O lago Mono, encontrado no leste da Califórnia, nos Estados Unidos, foi palco de uma das grandes polêmicas científicas geradas neste ano: será que estaríamos limitando a busca por formas alternativas de vida extraterrestre, que não apresentem os elementos considerados essenciais para a vida? 

A grande polêmica foi gerada por conta de pesquisas realizadas com essa bactéria, batizada de GFAJ-1, e afirmações de que este microrganismo substituía o fósforo (um dos elementos considerados essenciais para a vida) pelo arsênio. Há muitos estudos que se iniciaram para revelar a verdadeira “identidade” desde microrganismo, e se isso for mesmo verdade, assume-se a possibilidade de que possa haver alguma forma de vida que use este elemento químico para sua sobrevivência, ou seja, que não necessariamente organismos consigam sobreviver somente com os elementos julgados essenciais para a ciência moderna (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre). 

Recentemente, há muitos estudos sendo realizados para entender como se dá o desenvolvimento do GFAJ-1, mas o que se sabe definitivamente é que ela consegue crescer em um ambiente considerado inviável, abrindo um leque de possibilidades para que ocorra a sobrevivência de organismos semelhantes a este, em planetas encontrados no universo. 

Diante desses e muitas outras novidades que surgem com o decorrer desses estudos, não podemos descartar por completo a possibilidade de haver formas de vida fora da Terra, ou melhor dizendo, vida macroscópica. Para achá-los, seria como procurar uma agulha em um palheiro, dado ao inimaginável tamanho que o universo possui. Contudo, temos algumas pistas do que procurar e onde procurar. A exemplo de quando perdemos as chaves e refazemos todos os nossos passos para encontra-la, se quisermos achar vida extraterrestre, precisamos compreender que fatores influenciaram os seres que conhecemos e que moldaram nosso planeta ao que é hoje. Portanto, é importante entender profundamente como a vida surgiu e evoluiu em nosso planeta. E é assim que os astrônomos procuram por vida e planetas habitáveis.

Já é sabido que nem todos os planetas são iguais. Há aqueles que são frios demais, ou quentes demais. Outros cuja gravidade esmagaria qualquer tipo de vida conhecida, e outros que nem são formados por rochas, mas por gases! Procuramos por mundos semelhantes a Terra, similares em tamanho e que estão localizados próximo ao que se chama de zona habitável de suas estrelas (isto é, não muito próximos e nem muito distantes), com uma certa idade desde a sua formação, entre outros fatores. Já existem fortes candidatos (Box 1) e já podemos dizer que a probabilidade de encontrarmos o que procuramos é tão alta que a NASA divulga resultados cada vez mais esperançosos para a existência de vida extraterrestre.

 

Existe uma série de mundos que se aproximam em termos de  similaridade do Planeta Terra, e isso nos leva a crer que há grandes probabilidades de que um dessas regiões do universo podem abrigar vida. Além dos planetas já citados, Kepler-186f é outro (e talvez o mais provável atualmente) que tem chamado a atenção dos astrônomos. Descoberto recentemente, este planeta é o mais cotado para abrigar vida extraterrestre. Fonte: The Habitable Exoplanets Catalog, Planetary Habitability Laboratory, UPR.

Porém, já se foram quatro décadas de busca e não parecem ter sido suficientes, pois até hoje nada foi encontrado. Isso pode significar que não é algo simples e direto. A ausência de sinais de civilizações terrestres não provam que não estejam lá, que não tenham estado, ou que não venham a estar um dia, mas é profundamente incômoda, como as sereias de Kafka, cuja arma mais fatal não é o seu canto, mas sim o seu silêncio (do conto “O Silêncio das sereias”, de Franz Kafka). 

 

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