Quando o barato sai caro

Efeito dos agrotóxicos e o mundo dos orgânicos
Isadora Zavan Santieff
Thalita da Silva Lima
Esther Andrade Meirelles
isa_santieff@hotmail.com

DOI: 10.4322/temasbio.n3.006

Você certamente já ouviu falar dos agora “famosos” alimentos orgânicos. Mas você conhece todas as diferenças entre eles e os alimentos não orgânicos? E os prós e contras? O que a legislação define sobre esses alimentos? Você sabe o que certifica que certo alimento é realmente orgânico? 

Há muito tempo sabemos dos efeitos negativos dos agrotóxicos, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente. Com o aumento do cultivo na agricultura de organismos geneticamente modificados, também conhecidos como transgênicos, houve um aumento alarmante do uso de agrotóxicos. Isso se deve ao fato de as plantas transgênicas serem mais resistentes a esses tipos de substâncias. Entretanto, as consideradas pragas também adquirem resistência aos agrotóxicos com o passar do tempo, sendo necessário então, para manter o mesmo efeito de antes, a utilização de quantidades cada vez maiores. 

Quatro dos cinco pesticidas condenados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “provavelmente” ou “possivelmente” cancerígenos são liberados no Brasil, são eles: Glifosato, Malation, Diazinon e Parationa metílica. Desde 2008, o Brasil está em primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Além disso, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cada brasileiro ingere, em média, uma quantidade equivalente a um galão de cinco litros de veneno por ano. Esse uso abusivo de agrotóxicos acaba sendo um grande problema para a saúde humana e para o meio ambiente. Como alternativa para evitar esse consumo exacerbado de agrotóxicos, sugere-se a ingestão de alimentos orgânicos.

 

 

 

Efeitos que os agrotóxicos causam na saúde humana e no meio ambiente.

Os alimentos orgânicos certificados tendem ser mais caros que os alimentos não orgânicos. Isso se deve a vários motivos. Os custos de produção são maiores, porque precisam de mais trabalho por unidade de produção, existe uma demanda maior que o fornecimento desses produtos, o processamento e transporte dos mesmos são mais caros, entre outras dificuldades encontradas por esse mercado. Em contraste, os alimentos não orgânicos são mais baratos, pois o uso de pesticidas garante uma produção em larga escala mais fácil e rentável. Mas o barato pode ser caro para sua saúde.

 

Orgânicos

Os alimentos orgânicos são conhecidos como sendo mais saudáveis e livres de agrotóxicos, mas não são apenas essas características que os definem. 

Características da produção orgânica vegetal e animal.

Além disso, em qualquer produção orgânica é proibido o uso de radiações ionizantes, já que essas produzem substâncias cancerígenas. É proibida, também, a utilização de aditivos químicos sintéticos, como aromatizantes, corantes e emulsificantes.

O alimento orgânico também deve ser produzido em ambiente no qual se apliquem os princípios agroecológicos, que incluem uso responsável do solo, água e ar e respeito entre as relações sociais e culturais. A agricultura orgânica tem como objetivos a autossustentabilidade da propriedade agrícola, a diminuição da dependência de energias não renováveis, a potencialização dos benefícios sociais para o agricultor, a oferta de produtos saudáveis e nutritivos, ausentes de substâncias que prejudiquem a saúde do agricultor, do consumidor, do trabalhador e do meio ambiente. 

Benefícios dos alimentos orgânicos.

                           

Como ter a certeza que está comprando/consumindo um produto orgânico

Existe um Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do qual o produtor orgânico deve fazer parte. Para isso, o produtor deve estar certificado por um dos três mecanismos existentes, Sistema Participativo de Garantia, Certificação por Autoria ou Controle Social de Venda Direta.

Para vender em feiras, o produtor sem certificação precisa apresentar um documento chamado Declaração de Cadastro. Esse documento demonstra que ele está cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e que participa de um grupo que se responsabiliza por ele.

Os produtos que são vendidos em lojas, mercados e supermercados, sejam eles nacionais ou internacionais, devem ter estampados em sua embalagem o selo federal do SisOrg (Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica). No caso de produtos vendidos a granel, devem ser devidamente identificados com etiqueta, cartaz, ou algum outro meio.

No caso de lanchonetes, hotéis e restaurantes que servem produtos orgânicos, estes estabelecimentos devem manter a disposição do consumidor uma tabela com tais ingredientes e seus respectivos fornecedores.

Selo federal do SisOrg que certifica um produto orgânico. Fonte: www.organiclovers.com.br

Um estabelecimento não pode expor à venda um produto que não possui o selo definido pelo governo e que diz em seu rótulo que é orgânico. Se isso ocorrer, o produto é apreendido e a loja recebe uma notificação por escrito sobre os cuidados a tomar. Quando o produto que não apresenta o selo está embalado, o responsável é o produtor, e neste caso, ele é intimado e pode ser multado. Caso o produto esteja em outra embalagem, como por exemplo, a do mercado ou loja ou a granel, tanto o produtor quanto o responsável pelo ponto de venda respondem pela irregularidade.

Para ter certeza de que se está adquirindo um produto orgânico, o comprador deve exigir do produtor que os rótulos dos produtos tenham o selo federal do SisOrg. Em caso de produtos não pré-embalados como, por exemplo, verduras, o consumidor pode pedir cópia do certificado orgânico do produto e outro documento chamado Declaração de Transação Comercial. O consumidor pode, também, consultar no site do MAPA o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos.

 

Onde encontrar produtos orgânicos 

No site do Ministério da Agricultura (www.agricultura.gov.br) é possível encontrar a relação de Produtores Orgânicos do Brasil, a lista dos órgãos que controlam a qualidade dos alimentos orgânicos e de organizações que vendem seus produtos diretamente ao consumidor. Além disso, existe um site de localização das feiras orgânicas no Brasil (http://feirasorganicas.idec.org.br/).

 

Os desafios dos orgânicos no Brasil

O Brasil ainda enfrenta muitos desafios na produção orgânica, principalmente quando se trata de carne. É necessário, que quando um país inicie sua produção orgânica, comece pela produção vegetal. Isso se deve ao fato de que na produção animal, a base da alimentação dos animais é o vegetal orgânico. Portanto, a produção vegetal precisa estar desenvolvida para criar um mercado de carne orgânica. No caso das aves, por exemplo, é necessário ter grande fornecimento de grãos. 

No entanto, a produção de grãos e vegetais é muito exportada, já que a exportação costuma ser mais vantajosa para os produtores brasileiros, de modo que a compra desses alimentos para o consumo animal se torna muito cara.

 

Exemplos a serem seguidos

A Dinamarca é um exemplo para o mundo todo, tratando-se da questão de alimentação orgânica. O país declarou em 2015 que está se preparando para atingir uma agricultura totalmente orgânica, de modo que apenas esse tipo de alimentação será permitido, por lei. Hoje, já é o país com maior comércio de orgânicos e afirma que ainda investirá cerca de 53 milhões de euros na agricultura orgânica, oferecendo incentivos aos produtores que transformarem suas terras convencionais em orgânicas e, também, privilegiando projetos de sustentabilidade no campo.

Além da Dinamarca, alguns outros países são reconhecidos no meio orgânico. Por exemplo, os que apresentam maior espaço para plantio orgânico são a Austrália, com 17,2 milhões de hectares, Argentina com 3,2 milhões de hectares e Estados Unidos, com 2,2 milhões de hectares.

 

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