Ebola: Quem sobrevive? Nós ou ela?

Vírus ebola torna a fazer vítimas após dois anos sem dar sinais, e a taxa de letalidade varia entre 25 e 90%, dependendo da cepa
Mariana Soares Grando
mari_grando17@hotmail.com

O primeiro surgimento do vírus ebola aconteceu no ano de 1976, no Sudão e no Zaire (atual República Democrática do Congo), em uma região próxima ao rio Ebola, responsável por dar esse nome ao vírus e à doença. Primeiramente, o vírus foi associado a um surto de 318 casos de uma doença hemorrágica no Zaire, naquele ano. Dos 318 casos, 280 pessoas morreram rapidamente. No mesmo ano, 284 pessoas no Sudão também foram infectadas com o vírus e 156 morreram. Esta nova explosão já registrou mais de quatro mil mortos. O fim de um surto de ebola é oficialmente declarado apenas 42 dias sem nenhum novo caso confirmado na população, segundo o Médico Sem Fronteiras.

Acredita-se que os hospedeiros naturais do ebola sejam os morcegos frutívoros, que transmitem o vírus principalmente a macacos, e a contaminação humana se dá pelo contato com estes últimos. Em algumas áreas da África, a infecção foi documentada por meio do contato com chimpanzés, gorilas, antílopes selvagens e porcos-espinhos contaminados encontrados mortos ou doentes na floresta tropical. 

A transmissão do vírus, entre os humanos, se dá através de sangue, saliva, suor, urina, vômito e fezes, porém essa transmissão não é de fácil contágio. Enterros onde as pessoas têm contato direto com o falecido também podem transmitir o vírus, enquanto a transmissão por meio de sêmen infectado pode ocorrer até sete semanas após a recuperação clínica. O vírus só é um agente de destruição em massa em locais extremamente precários, como a África, onde ele encontrou condições ótimas para a sua disseminação. 

Apesar da agressividade do ebola, acredita-se ser pouco provável que ele saia vitorioso nessa guerra. Do ponto de vista evolutivo, ele é considerado um “vírus burro”, pois seu tempo de encubação é curto, durando, em média, quatro dias. O agente causador da AIDS, o HIV, em geral fica sete anos sem se manifestar. Portanto, o ebola tem uma capacidade restrita de contaminação e de sobrevivência. Atualmente, os especialistas estão lidando com uma nova cepa, a sexta do vírus, segundo estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. Há cinco espécies do vírus ebola: Bundibugyo, Costa do Marfim, Reston, Sudão e Zaire, nomes dados a partir dos locais de onde se originaram. 

Na primeira epidemia, em 1976, 90% dos contaminados sucumbiam, vítimas de graves hemorragias. Como qualquer vírus, a lógica evolutiva é de que, em seus primeiros contatos com o homem, ele tende a ser mais agressivo, devido ao fato do sistema imunológico da presa ainda não o reconhecer. Com o passar do tempo, tanto o vírus quanto o homem adaptam-se um ao outro, porém, ao matar menos, o ebola aumentou a sua capacidade de proliferação – diz o infectologista Artur Timerman.

Os vírus são seres acelulares, pequenos, medindo cerca de 0,1 µm de diâmetro, sendo observáveis apenas ao microscópio eletrônico. São constituídos basicamente de DNA, RNA, ou até mesmo os dois, envolvidos pelo capsídeo, que é um invólucro proteico. Não possuem orgânulos que realizem as atividades bioquímicas, portanto são parasitas intracelulares obrigatórios. Quando se dá a relação parasitária, o material genético do vírus assume o controle da célula, com o objetivo de originar centenas de novos vírus em um curto período de tempo. Isso ocorre, pois os vírus infectam a célula hospedeira, ligando suas proteínas virais à proteína receptora do hospedeiro, podendo realizar assim a multiplicação de seu material genético.

Os americanos discutem atualmente a possibilidade de usar drogas experimentais ou transfusão de plasma sanguíneo de um paciente que se curou do ebola para tratamento de um caso no Texas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou recentemente que considera usar uma droga experimental, a fim de conter a epidemia que já infectou milhares de pessoas desde março, na África Ocidental. O anúncio foi feito depois que dois americanos infectados pelo vírus foram levados de volta aos Estados Unidos e tratados com esse medicamento. No Brasil, há 31 hospitais credenciados nos 26 Estados e no Distrito Federal para tratar possíveis pacientes com ebola, mas alguns deles ainda estão finalizando o treinamento para os profissionais e ampliando sua cota de equipamentos.

Atualmente, não existe nenhum medicamento específico de combate ao vírus, embora várias drogas estejam em desenvolvimento. Porém, pesquisadores americanos estão planejando testar em breve uma vacina experimental, que se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores da área da saúde, que são os mais expostos. Os Institutos Nacionais da Saúde nos Estados Unidos logo começarão os testes em humanos, sendo estes testes já promissores em macacos. O rápido diagnóstico agiliza o tratamento e aumenta as chances de vencer a doença, que tem até 90% de letalidade. 

Apesar de ser uma doença grave, é possível que uma pessoa com ebola viaje de avião, mesmo a lugares distantes, já que a doença pode levar três semanas para se manifestar. Porém, segundo o professor William Shaffner, da Universidade Vanderbilt nos EUA, em entrevista ao site americano LiveScience, é improvável que o ebola se espalhe como tem ocorrido nos países africanos se os serviços de saúde agir de forma eficaz, isolando os contaminados. Destaca-se também que para ser contaminado, é necessário ter contato próximo com uma pessoa doente, com troca de fluidos corporais; estar no mesmo ambiente que a pessoa, apenas, não é perigoso. 

 

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