Toninhas: ecologia, ameaças e conservação
A toninha (Pontoporia blainvillei) – também conhecida popularmente como cachimbo, boto-amarelo ou franciscana – é o golfinho mais ameaçado no Atlântico Sul Ocidental, sendo listada como espécie brasileira ameaçada de extinção pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Sua ocorrência é exclusiva do Atlântico Sul Ocidental, entre Itaúnas, no norte do Espírito Santo, até o Golfo de San Mathias, na Argentina. O animal é considerado o menor cetáceo do mundo – animais adultos não ultrapassam dois metros – e pode ser facilmente identificado pelo seu pequeno porte, além de características como: focinho extremamente afilado com mais de 200 dentes pequenos; nadadeiras peitorais curtas e largas; e coloração parda-marrom, que permite sua camuflagem nas águas turvas da região que habita.
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Toninha (Pontoporia blainvillei). Fonte: http://www.elhogarnatural.com/ |
Fêmeas e machos atingem a maturidade sexual no litoral sul de São Paulo e norte do Paraná. A gestação dessa espécie dura entre 11 e 12 meses e as fêmeas têm apenas um filhote a cada um ou dois anos. É durante a primavera que ocorre o pico de nascimentos; porém, pode-se avistar filhotes durante todo o ano em algumas regiões como a Baia de Babitonga, em Santa Catarina. Os filhotes, apesar de mamarem até os nove meses de vida, também podem ingerir outros alimentos como camarões, por serem fáceis de capturar. Já os indivíduos adultos alimentam-se de camarões, cefalópodes (lulas e polvos) e peixes. Essa captura é realizada por meio de movimentos coordenados do grupo, e tal comportamento é ensinado pelas mães.
Normalmente, não costumam formar grandes grupos de indivíduos, sendo comumente encontrados animais solitários ou grupos pequenos de dois a cinco animais. Alguns estudos genéticos indicam que existem laços familiares entre indivíduos do mesmo grupo. São animais discretos que não costumam saltar como a maioria dos golfinhos.
Essa espécie está cada vez mais ameaçada de extinção devido à prática de pesca com a utilização de redes de emalhe, como mostram estudos sobre esses golfinhos que já vêm sendo realizados há mais de 20 anos. Essa grande captura ocorre devido ao longo tempo que leva a prática da pesca de emalhe (de 12 a 14 horas) e, também, pelas extensas redes utilizadas, que podem chegar até 30 quilômetros de comprimento. A bióloga Marta Cremmer, do Departamento de Biologia da Univille, coordenadora técnica do Projeto Toninhas, explica que os animais buscam peixes nas redes e terminando por ficar presos e, sem conseguir subir à superfície para respirar, acabam morrendo.
Compreende-se por pescaria acidental a captura de animais que não são o alvo da pesca. Além de não possuírem nenhum valor comercial, muitas vezes causam prejuízos aos pescadores, já que enrolam-se nas redes a acabam rasgando-as. Pouco se sabe sobre essa interação homem-toninha, o que se deve principalmente ao medo dos pescadores de relatarem os incidentes, já que esses animais são protegidos por lei no Brasil.
No entanto, outros fatores vêm contribuindo para a vulnerabilidade das toninhas: a degradação do seu habitat por esgotos domésticos e industriais; a quantidade de detritos jogados nas praias que são ingeridos por essas espécies; poluição por metais pesados e organoclorados oriundos dos portos, que resultam também em um tráfego marítimo intenso que leva à poluição sonora, mais um fator que afeta diretamente esses animais; e a exploração excessiva dos recursos pesqueiros que participam da dieta da espécie.
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Toninha acompanhada de seu filhote. Fonte: http://www.projetotoninhas.org.br/ |
Alguns estudos mais recentes indicam uma mortalidade acidental no Rio Grande do Sul de aproximadamente 750 indivíduos por ano. Esse valor representa cerca de 4,7% da população nessa região. Devido a esse alto valor, as capturas no Sul do País podem levar a uma extinção local ao longo do tempo.
O hábito das toninhas potencializa a alta frequência de capturas acidentais, já que são animais de hábito costeiro, geralmente associado a desembocaduras de rios e estuários que não ultrapassam a profundidade de 50 metros, onde facilmente enroscam-se nas redes de emalhe.
Além dos riscos de extinção, por serem predadores do topo da cadeia alimentar a preservação das toninhas é imprescindível também para o equilíbrio da biodiversidade da região. Frente a tantos problemas, vários projetos e estudos têm sido realizados para maior informação e conservação dessa espécie. Dentre eles, destacam-se a criação do Plano de Ação Nacional Toninha, o Projeto Toninhas e o Projeto Biopesca. O Laboratório de Mamíferos Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) também realiza estudos com esses animais.
Os pesquisadores apontam que a medida mais importante a ser tomada primeiramente é a redução do tamanho das redes de emalhe. Também é necessário, além da conscientização dos pescadores, um maior acervo de informações sobre essa espécie, para possibilitar a criação de uma área de proteção ambiental. Tais medidas são importantes não apenas para evitar a extinção desse pequeno cetáceo, mas também para que outras espécies não sejam vítimas das redes, como as tartarugas e tubarões.
Leituras sugeridas:
- PAN Toninha – http://www.icmbio.gov.br/cma/planos-de-acao-nacionais-de-mamiferos-aquat...
- Projeto Toninhas – http://www.projetotoninhas.org.br/
- Projeto Biopesca – http://www.biopesca.org.br/
- Laboratório de Mamíferos Marinhos da FURG – http://www.peld.furg.br/index.php?option=com_content&view=article&id=69&...